quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Muito trabalho = Muita dívida

Enquanto fazia minha caminhada filosófica, pensava sobre aquelas frases populares, tipo: "Quem trabalha demais, não tem tempo para ganhar dinheiro".  Pensando sobre meu passado, cheguei a uma outra conclusão: "Muito trabalho = Muita dívida". Já fiz muita coisa na vida. Na rua já vendi verduras e legumes, e sempre trazia alguma renda para casa. Também vendi salgadinhos, doces e "saquinho" (ou gelinho como é chamado em alguns lugares). Nesse caso eu e meu irmão só dávamos prejuízo para minha mãe. Quando não consumíamos a metade, nossos amigos consumiam. E de graça! Já fui vendedor de roupra em boutique masculina (Chique não?). Trabalhei em locadora de vídeo (o que acrescentou muito em minha formação psicológica e intelectual, pois assistia muitos vídeos educativos). Trabalhei como mecânico mirim e quase morri queimado uma vez. Fui "menor aprendiz de serviços gerais" em um banco. Por sinal, que tempo bom! Trabalhei numa loja de materiais odontológicos por uma década. Mesmo assim, morro de medo do barulhinho do motorzinho. Chegamos à idade adulta, ou "idade da razão" como diz Sartre. Muito estudo, muita dedicação e, finalmente um emprego estável com umas 55 horas semanais de trabalho. Quase uma overdose!
Tantas experiências e a vida está estável, certo?
Errado! Trabalho o dobro e devo o triplo.
13°? Já pertence ao banco!
Restituição de IR? Já tem dono: o banco!

Então resolvi: vou trabalhar menos, pra ver se consigo quitar minhas dívidas. Ou então, seguindo a mesma lógica, se eu não trabalhar nadica de nada, não ganho, mas também não ficarei devendo pra ninguém.

Afinal: se "Muito trabalho = Muita dívida", então "Nada de trabalho = Nada de dívida".
Concorda?


terça-feira, 30 de agosto de 2011

Paixão não mata. Faz viver!

Há muitos que desistem da paixão por medo de sofrer. Mas a própria palavra paixão deriva do grego pathos, que comumente é traduzida por “sofrer”, “padecer”. Quem se apaixona, indiscutivelmente sofre, padece! Durante séculos, filósofos de todas as épocas defenderam a supremacia e o domínio da razão sobre nossas paixões como caminho para a felicidade, para a ataraxia como queriam os estóicos, o nada querer, o nada desejar, a alma livre de perturbações. Até mesmo Epicuro, o pai da filosofia do prazer, nega a elevação da alma e a conquista da felicidade pela via única dos prazeres do corpo. A paixão passou a ser sinal de desiquilíbrio, de excesso e loucura, uma espécie de desrazão. Que preço é necessário pagar para anularmos nossas paixões? Certamente nos tornamos mais ponderados, nossas escolhas tornam-se fruto de deliberações emanadas de um longo pensar e refletir, de um demorado cálculo das consequências nefastas ou benévolas do pathos. Esquecemos-nos somente que não há cálculo, fórmula que possa aprisionar o viver a paixão. Paixão não é teoria, muito menos relações estáveis de causa e efeito. Paixão é efeito sem causa! Ninguém morre de paixão, morremos por viver sem paixão, por não acreditarmos que ela seja mais possível. Pelo menos uma vez mais!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Expressões antológicas! - Parte 1

No dia a dia, usamos alguns xingamentos que dizem tudo e não querem dizer absolutamente nada. Já perceberam? Mas que eles possuem um poder de persuasão, isso possuem! Sábado à noite eu e meu amigo Rubinho lembrávamos de algumas.

- VÁ PENTEÁ MACACO
- VÁ MORDE SEU PAI NA BUNDA
- VÁ CHUPÁ PREGO
- VÁ PEIDÁ NÁGUA
- VÁ CATÁ COQUINHO
- VÁ CAÇA SAPO
Fala a verdade, funciona ou não funciona?

domingo, 28 de agosto de 2011

Expressões que só Itapeva tem - Parte 9

E você pensava que não teria mais nada? Ledo engano! Desconfio que logo logo, o itapevês fará parte da grade curricular das faculdade de tradução. Então, pela memória de nossa língua, mais uma bateria. E não se esqueçam: é impossível seguir a Norma Culta, perde totalmente o sentido. Por isso usamos a linguagem coloquial.

1 – Tá bom. Eu vo no gol, mas num so golero. Então vê se num dá CACHIMBADA tá!
2 – Oh TURMADA? Vamo logo TURMADA!
3- Arizinho? Bate o escanteio e joga no FERVÔ.
4 – Para de fica ATORMENTANO guri!
5 - Viu? Se tem uma CEGUETA pra emprestá?
6 - Truuucoooo REBOQUE DE IGREJA VÉIA! (em homenagem ao falecido Galo)
7-O pai? Como é que a mãe tá?
- Xééé fia, sua mãe tá REINANO desde cedo! (essa é praxe do seu Zé)
8 - Viu? Mais é um SEBERA esse rapaz não?
9- Esse cara fica MORCEGUIANO o dia intero! Tá loco viu!
10- Isso, vai me irritano...te do um PEDOVIDO guri! (Valeu Cris).

Nico e Bico: tem corretivo?

- Ei Bico, Bico?
- Oooiiii....tô me arrastando Nico! Rapaz!! Que vida é essa?
- Viu? Tem corretivo aí?
- Pergunta pro Mané. Mas pra quê Nico?
- "Zerá" a placa meu filho. Esqueceu?
- É ou não é um cretino?

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Nico e Bico: Contagem progressiva!

- Ei Bico? Bico?
- Fala Nico.
- Cara, “tô” me sentindo tão bem. E você?
- Loco do céu! Eu “tô” parecendo motor retificado. Que aconteceu, hein?
- Sei lá. Será que? Ah, não é possível? O cretino se converteu de vez?
- Ah Bico, pouco provável. Eu já deixei de acreditar em milagres.
- Olha só, tive uma ideia Nico!
- Fala aí Bico.
- Sabe aquelas placas que as empresas usam sobre prevenção de acidentes? Tipo: 358 dias sem acidentes.
- Sei, sei.
- Então Nico, “vamo usá”?
- Putz...genial Bico.
- Então, quantos dias faz, hein Nico?
- Pelos meus cálculos, domingo.....um, dois, três....seis, é isso. Seis dias Bico. Se ele ingeriu alguma coisa nesses dias eu nem senti!
- Beleza......pronto Nico. “Seis dias sem destilados ou fermentados.” Ficou bom?
- Perfeito!
(Mané – o cérebro – ouve o zum zum zum e se intromete mais uma vez)
- Ei, Ei? O que é que tá rolando aí? Rebelião?
- Ah...não é da tua conta. Gostou Nico?
- Mas é um bocó de mola, hein Bico?
Bom final de semana galera!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Lembranças de uma infância feliz!

Nunca fomos ricos, também nunca miseráveis. Tudo bem, quase sempre o mesmo chinelo e o mesmo tênis. Vai à escola? Quichute! Vai à missa? Quichute! A meia está furada? Amarra a ponta! Chegava a “doe” a unha. A cueca estava caindo? Dá um nó! Alguém queria dar um tênis usado? Dá aí tia, se ficar grande “nóis” coloca jornal, se ficar apertado, “nóis encoie” o pé. Afinal, pé de pobre não tem tamanho! Roupa de menino e roupa de menina? Não existia, tudo junto e misturado. Só não usava saia! Mas nossa infância foi muito, mas muito feliz. São detalhes que não me esqueço nunca. São lembranças que espero guardar na memória para sempre. E algumas frases ainda soam na memória como música:
- Manhê? A senhora “coloco” mais Kisuco pra ele. Oh...num tá igual não!
- Manhê? Tá começando a “chovê”. Onde “tão” os “balde”?
- Oh..A mãe tá fritando batatinha. Mas casca é minha viu?
- Manhê? Num tem mais sabonete?
- O pai? Pode “i” na casa do Chicão?
- O gurizada! Cadê as “bolacha” que veio na compra hoje? Mas já “comero” tudo? Mas num é possível viu!
- Aaara...já falei que era um pedaço pra cada um, num falei?
- Manhê? Tem um monte de pão duro aqui. “Faiz” pudim?
E a melhor de todas (Não é Tonha?):
- Manhê? “Faiz” garapa pra mim! (Pra que não sabe: água com açúcar).

Porque os homens morrem primeiro que as mulheres!

Por que será? Hein?









E os filósofos insistem em afirmar que o homem é um aninal racional. Tira o racional então!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Blog é como casamento!

Sei que ultimamente não tenho sido muito pontual em minhas publicações. Falta de criatividade? Talvez. Falta de tempo? Também. Digo que é difícil manter o mesmo ritmo sempre. Sempre quando iniciamos algo novo, somos pique total, o entusiasmo nos invade e nos fascina. Depois, desaceleramos. Parece natural!
Semana passada fazia minha caminhada e pensava no quando falhei em minhas publicações. Não sei por que, mas de repente me veio uma associação abrupta: blog é como casamento!
Porque no início publicava todos os dias, até duas ou três publicações diárias. Que pique! Só pensava em publicar, publicar e publicar. É chegar do trabalho, e publicar! Antes de dormir, publicar! Agora, dias sem publicar. Semanas, e nada! O final de semana sem publicar nada? Que horror!
Mas sempre é hora de recomeçar, inventar algo novo, dar uma apimentada na vida. Por que blog é como casamento: sem publicar nada, ninguém aguenta amigo! (Nem Brad Pitt).
Eu comecei a semana publicando. E você?

Quem inventou o trabalho?

Já diziam meus amigos Rubinho e Hakin (o Turco) que o indivíduo que diz que gosta de trabalhar é o maior mentiroso do planeta. E sou mais um que ratifica o que eles dizem. Até porque, etimologicamente, a palavra trabalho é derivada do latim tardio tripalium (literalmente “três paus”), um instrumento romano para torturar e supliciar escravos.
Imaginemos então, um dia frio, muito, mas muito frio. Daqueles em que nem as células mais longínquas do seu corpo escapam. Dói o joelho, os pés, o cotovelo, a ponta do nariz, o lado interno do nariz, o rim, o pâncreas, o líquido da espinha. Até a alma, imaterial, dói!
Já sei! Você poderá estar dizendo: não reclame! Há muitos que gostariam de estar no seu lugar.
Respondo: num dia como hoje? DUVIDO!
Então, um viva, um salve, muitas palmas, um glória, um hipi-hipi hurra para a inteligência ímpar que inventou o trabalho!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Indagação transcendental - Parte II


Cuidado com o que você pergunta ao seu professor de filosofia. Há perguntas que podem levá-lo a uma indagação transcendental.

I) Professor, não tem ninguém na sala. O senhor vai dar alguma coisa?
Bom...pensando como Descartes, o homem é um ser composto de duas substâncias: um corpo (res extensa) e uma alma (res cogitans). Apesar de estarem unidos, é possível pensar a alma separada do corpo. Então, será que você é um espírito que está vagando perdido por esse mundo e eu estou aqui falando com uma alma penada?

II) Professor, na prova vai cair o que senhor deu?
Bom...segundo duas máximas romanas, ninguém pode tirar o que não deu, nem dar o que não possui. Mas, pensando bem: acho que vou dar uma sacaneada dessa vez. Física ou química, hein?

III) Professor, é verdade que todo filósofo acaba ficando louco?
Bom...o que é um louco? Será alguém que não é mais capaz de saber sua identidade, reconhecer-se como pessoa, um ser dotado de razão, sabedor daquilo que faz? Um ser que é incapaz de realizar uma determinada atividade sem se desviar com questões desnecessárias e fora de propósito. Não. Creio que o filósofo não. Professor fica!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Miguelito e Aristóteles: um discurso improvável!

Péricles discursando na ágora ateniense.
Miguelito passara dias dentro de um pote, totalmente inerte. Apenas sonhara, sonhos estranhos, sem significados aparentes. Hora tinha patas gigantes, hora sua cabeça era dez vezes maior do que seu corpo. Em outros sonhos devorava maças, era picado por uma cobra. Quando acordou, Miguelito nos contou que estava dentro de caixa com uma tampa de vidro. Ao seu lado, inúmeros insetos de variadas formas e cores. Todos mortos! Seu coração disparou. Como sairia de lá? Nesse momento, um esguio homem abre a tampa para catalogar mais um inseto de sua coleção. Miguelito pensa: é agora ou nunca!
- Ei? Ei? Senhor?
- Ti estin? Você está falando comigo? Impossível! Só os humanos falam. A linguagem é o que nos diferencia de todos os outros seres. Ela nos faz seres racionais e políticos. Só o homem é um zoon politikon (animal político). Então, você é um animal político também?
- Ahh..vejo que o senhor deve ser Aristóteles! Sacanagem daquele baixinho viu! Bom, seguindo a linha de sua “Política” e também de sua “Ética à Nicômaco”, poderíamos dizer que sim.
- Mas eu nem finalizei minhas obras. Como pode ter lido? E quem é você? Ou, o que é você?
(Miguelito pensou: ahh...essa minha boca viu! Como é que eu vou explicar tudo isso agora?).
- Vejo que gosta de classificar tudo, não é? Pois bem, sou Miguelito, o último dos besouros sapiens. E venho de longe, muito longe.
- E como aprendeu a falar? Quem lhe ensinou? Com que finalidade? Para viver na pólis e ser feliz como nós?
- Feliz? A felicidade não existe, só há momentos felizes. E os meus estão cada vez mais escassos. O senhor é feliz porque vive no ócio e não precisa trabalhar. Se vivesse onde eu vivo! É trabalho...trabalho....trabalho....enche o saco viu seu Aristóteles!
- Mas a felicidade é a finalidade nossa existência.
- Então, minha existência não tem finalidade nenhuma. Só levo na cabeça!
- E que cabeça hein rapaz? Ahh...Alexandre escreveu que você veio da Índia, não foi?
- Que Índia o quê. Eu venho de São Miguel Arcanjo.
- E onde fica? É um povo bárbaro?
- Bárbaro? Sensacional. Mas gostam de uma festa, não tem igual no mundo, tudo gente boa seu Aristóteles. Agora, onde fica? Huuumm...ah, ali no Brasil mesmo.
- E vocês vivem numa aristocracia, tirania, oligarquia ou democracia?
- Sinceramente, nem sei mais. Acho que é uma mistura de tudo. Acho que Platão estava certo, estamos descambando numa tirania, porque demagogo é o que não falta lá. Maquiavel estava certo, sempre haverá a quem enganar!
- Esse Maquiavel eu não conheço, mas Platão foi meu mestre. Você gostaria de conhecê-lo?
- Pelos deuses! Ele e Sócrates me deram um vinho, uma tal de cicuta que é de matar!
- Mas cicuta não é um vinho, é um veneno meu caro! Sócrates foi condenado a bebê-lo semana passada! Já partiu para o seu mundo inteligível, junto dos bons, dos sábios e dos heróis.
- Modesto ele não?
- Deixemos Platão e Sócrates. Eu também não concordo com eles.
- Muitos não concordaram com o senhor também.
- Ora, quem?
- O próprio Maquiavel que eu citei anteriormente. O bom político deve ser virtuoso. Não é o que o senhor diz? Ética e política são indissociáveis.
- É evidente. E como poderia ser diferente?
- E se para alcançar um objetivo justo e bom eu precisar agir contra a moral e os bons costumes?
- Como pode ser justo algo que contraria princípios éticos?
- Maquiavel não via problema nisso. Por isso os meios podem ser escusos quando a finalidade é a manutenção do poder e o bem comum.
- E você concorda com Maquiavel?
- Simpatizo bastante com suas ideias. Afinal, o homem é um pérfido, um interesseiro, se vende facilmente, “é capaz de esquecer mais rapidamente a morte do pai do que a perda de um patrimônio”.
- Então, se o povo não se conduz de maneira justa e ética, ao político tudo é permitido?
- Nem tudo. Quando está sob os olhares do povo, faz uma média, simula e dissimula ser o que não é: justo, honesto, fiel, íntegro e, principalmente, religioso!
- Por Atena!
- Seu Aristóteles, da última vez que estive aqui, o seu Péricles tinha me convidado pra fazer um discurso na ágora. O senhor me levaria lá?
 (Aristóteles pensou consigo: esse baixinho irá corromper nossa juventude com ideias tão absurdas. Será ele um sofista? Quase me persuade! Um discurso? Será o fim de Atenas!).
- Miguelito, você ficará em minha casa. Amanhã iremos até a ágora e o levarei até Péricles.
- Um discurso na ágora? Caramba, esse é o século de Péricles, entrarei para a história!
- Agora, vamos comer alguma coisa. Estou faminto!
- Mas vamos com calma seu Aristóteles. Moderação, meio-termo, certo? Se não caímos no vício da gula.
- Muito bem, vejo que me conhece mesmo. E você é moderado? Utiliza minha ética?
- Moderado? Huummmm...acho melhor comermos.
(Após comerem, Aristóteles levou Miguelito para seu “laboratório”. Convenceu Miguelito de que seria melhor ficar com os outros insetos ou então dormiria com os escravos da casa, o que seria perigoso para um ser tão diferente. Após colocá-lo na caixa, se despede).
- Bom, tenha uma ótima noite Miguelito!
- Boa noite seu Aristóteles. E o jantar estava ótimo.....Ei, peraí! Por que esse cadeadão? Medida de segurança? Ah, já sei! Medo de que voe, não é?
- Maquiavel, né? Ética e política são distintas, não é isso? Para manter o poder vale tudo?
- Ei, como vou fazer pra sair daqui? Sacanagem viu!
- Espere seu amigo Maquiavel chegar e pede a chave pra ele. Os fins justificam os meios Miguelito! Acho que aprendi!
Aristóteles (384-322 a.C.)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A DIFÍCIL ARTE DE DECIDIR!

Há dias em que acordamos com uma sensação estranha. Um vazio, um remoer do estômago, um desejo de permanecer quietinho em nosso quarto. Não ver ninguém, não ganhar o pão de cada dia, uma náusea. Sintoma de segunda-feira? Até o Garfield odeia a segunda! Mas não é isso. É a sensação de que você precisa tomar decisões. Talvez Sartre tenha razão, somos o único ser que experimenta a angústia. Por que uma decisão significa a anulação de inúmeras outras possiblidades. E você é o único responsável pelas decisões que toma, por isso sente o peso do passado a esmagar-lhe as vezes. Então se pergunta: me casarei novamente? Terei mais filhos? Mudarei de profissão? Mudarei de cidade? Fazer essa ou aquela faculdade? Tentar novamente ou separar? Ficar só ou viver um novo amor? E ninguém poderá decidir por você, ou então, você entregará as rédeas de sua vida em mãos alheias. Hesitar? Adiar a resposta? Dar-se um tempo? É possível, é compreensível. É humano! Mas no final você terá que decidir. É o drama de nossa existência. É o olhar extasiado diante de nossa própria tragédia. E na tragédia da vida somos personagem e ator. E é isso o que faz da vida o mais belo espetáculo!
“Não importa o que fizeram de nós. Importa o que faremos daquilo que fizeram de nós” J.P. Sartre.

sábado, 13 de agosto de 2011

Indagação transcendental!

Há perguntas que nos são feitas e nunca respondemos. No entanto, nosso cérebro processa a resposta em silêncio. Isso vale do gerente à caixa do supermercado, do dono da empresa ao empregado, para a esposa e para o marido, para pais e para filhos. Em sala de aula não seria diferente. Se bem que acredito que a escola funcione como um universo paralelo, como uma galáxia com leis independentes. Se você é aluno, cuidado com o que pergunta ao seu professor de filosofia, porque toda pergunta suscita uma indagação transcendental.  Ele apenas pensa, quase nunca responde.

- Professor, é para copiar no caderno?
Indagação transcendental: bom....eu já te expliquei as quatro causas da metafísica de Aristóteles. Segundo ela, a última causa é a causa final, ou seja, todo ser possui uma finalidade para a qual existe. No caso do seu caderno, ele é um objeto feito por uma máquina, é retangular, contém folhas de papel com linhas e pode receber a impressão de tinta ou grafite. Há alguns cadernos que possuem uma boca enorme que grita o tempo todo: ESCREVA EM MI, ESCREVA EM MIM!  PLEASE!

- Professor, o senhor começou um parágrafo. Eu também começo um?
Indagação transcendental: não necessariamente. Porque segundo Kant, o homem esclarecido, que atinge a maioridade é capaz de se guiar por si mesmo (Sapere aude!). Então, se eu comecei um parágrafo, você poderia concluí-lo ou deixá-lo inconclusivo. O que acha?

- Professor, eu não trouxe a apostila. E agora?
Indagação transcendental: pautado na teoria da incerteza de Heisenberg, há quase infinitas possibilidades. Você pode rir, chorar, dormir, cantar (menos aquelas tipo: desce, desce, sobe, sobe, vai, vai, vai), desaparecer (o que seria fantástico), flutuar, rezar, entre outras. Agora, eu tenho uma certeza: você não vai fazer p.......nenhuma.

- Professor, o senhor é ateu?
Indagação transcendental: segundo a filosofia clássica, o homem é dotado de uma razão, ele é um ser racional porque possui uma alma. Passando pelo cristianismo, o homem, como ser inteligente que foi criado à imagem de Deus, estaria acima de todas as criaturas, répteis, aves, peixes.  Olhando para você e alguns de seus colegas, como posso acreditar? Fica bem difícil!

- Professor?  Sinceramente não entendo. Por que eu tenho que estudar filosofia?
Indagação transcendental: bom....segundo alguns pensadores estruturalistas, o homo sapiens (que sabe que sabe) não existe mais, morreu! Mas eu não vou te dizer isso, porque se você não estudar filosofia eu vou ter que vender pipoca (e meu pai já vendeu o carrinho dele).
- Professor? É verdade que todo filósofo ou é louco ou é gay?
Indagação transcendental: cretino! Vai “enchê” o saco do seu pai guri!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

MIGUELITO E O TEAR DE PENÉLOPE!

Penélope e os pretendentes (1912). John William Waterhouse

Penélope estava aflita vendo seu palácio invadido por uma corja de homens inescrupulosos que, pouco a pouco, devoravam toda riqueza de seu reino, de sua amada Ítaca. De quebra, eles ainda disputavam quem sucederia o trono de Ulisses (em grego seu nome era Odisseu). Ulisses partira para Tróia havia mais de uma década e as esperanças de sua volta se dissipavam como o vento. Penélope, sua fiel e amada esposa, tecia uma peça em seu tear durante o dia e à noite, secretamente, desfazia boa parte do trabalho. Forma de ganhar tempo com seu pai e seus pretendentes e adiar o casamento. Era a única a acreditar na volta do Rei guerreiro. Numa tarde com o sol já se pondo no horizonte Miguelito nos conta que voou para dentro do quarto de Penélope e se pôs a observá-la do alto do tear. Mergulhada em profunda tristeza, Miguelito se apieda da pobre esposa. Já aprendera com Nietzsche que “Só deveríamos falar quando não é possível calar!”, mas não se conteve.
- Oi? Boa tarde Senhora!
- Por Zeus, não há ninguém aqui e estou a ouvir vozes?
- Aqui senhora, no tear, em cima! Olhe para cima!
- Por Poseidon, quem é você? Ou melhor, o que é você?
- Me chamo Miguelito, e sou o último dos besouros sapiens.
- Inteligente? Um besouro? Achei que apenas os deuses e nós fossemos inteligentes.
- Isso é parte de um orgulho tolo de sua espécie. Por falar em inteligência, que peça linda a senhora está tecendo.  Por que está começando a desfazê-la?
- Prometi para meu pai e esses usurpadores que invadiram minha casa que quando terminasse me casaria com um deles.
- A senhora é viúva? Por sinal, como se chama?
- Penélope e não sou viúva, apesar de todos tentarem me convencer que meu Ulisses morreu e não voltará jamais.
- Ulisses, o astuto?
- Você o conheceu? Ele está vivo? Por todos os deuses, você é Hermes, o mensageiro de Zeus?
- Não, de jeito nenhum. Já me confundiram com um heroi grego em Tróia. Uma confusão senhora!
- Tróia? Você esteve lá?
- Foi lá que conheci seu marido. Uma “figuraça”, inteligente. Como é esperto, hein dona Penélope?
- Minha alma transborda como uma ode. Não me trazes notícias Miguelito, trazes remédio para minhas dores. E como ele estava?
- Xééééé´..o “home” é uma fortaleza dona!
- E ele ainda está vivo?
- Olha, depois que derrotei Heitor, a guerra prosseguiu por longos anos. Os gregos já estavam a desistir. Foi quando Ulisses teve uma ideia genial.
- Ele sempre foi muito astuto mesmo. Que ideia foi essa?
- Tróia possui as maiores muralhas que eu já tinha visto. Suas paredes parecem Titãs, gigantescas. Ulisses pensou então em construir um cavalo de madeira enorme. Lá colocaram os melhores soldados e Aquiles. Então, o cavalo foi deixado em frente aos portões da cidade. Adivinha?
- Já sei Miguelito! Eles acharam que era um presente de Apolo pela vitória?
- Bingo!
- Bingo? Estranho! Mas se os gregos saíram vitoriosos, porque ele não voltou? Será que se apaixonou por alguma  grega mais jovem? Desgraçado! Mulherengo, não pode ver um rabo de saia!
- Calma dona Penélope. O ciúme é o pior dos vícios!
- Miguelito, você será minha salvação!
- Chiiiiiiii....”sobrou pra mim o bagaço da laranja...sobrou pra mim o bagaço da laranja”.
- Música estranha. O ritmo até que é bom.
- É pagode dona Penélope. É o canto das sereias, ou melhor, a dança das sereias. Ainda bem que seu marido nunca foi a uma roda de samba. Nem amarrado ele resistiria!
- Vou vestir você com minhas roupas Miguelito e vou ensiná-lo a tecer. Com tantas patinhas você poderá ludibriá-los por muito tempo.
- Nem pensar! Vestir-me como mulher?
- Calma! Você terá tudo o que precisa aqui, comida, bebida, umas besourinhas quando desejar, à noite pode sair um pouco, caminhar pela praia. É só tecer durante o dia e desfazer à noite. O que acha?
- E a senhora vai fazer o quê enquanto isso? Tratamento estético, depilação, chapinha, manicure, lipoaspiração, vai aplicar botox, vai “dá” uma siliconada?
- Fiquei curiosa. Mas não tenho tempo, depois você me conta. Você será o meu hóspede de honra Miguelito.
- Já ouvi isso antes dona Penélope. E no final, só me ferrei!
- Aposto que eram homens. Que tal dar crédito a uma mulher? Hein?
- É verdade, acreditar nos homens é uma maldição. E a senhora me parece uma boa pessoa. Então, “diga ao povo que fico”.
- Miguelito, serei eternamente grata e, no final você será muito bem recompensado. Adeus!
- No final né? Por que até agora, só castigo! Mas enfim, adeus!
(Feliz e bem disposta, Penélope se retira e chama seu filho Telêmaco).
- Telêmaco meu filho. Ouça bem. Vou buscar seu pai.
- Então, vamos juntos.
- Não filho. Preciso que você fique aqui. Traga-me 10 dos melhores soldados de Ítaca. Diga a todos do reino que estou acamada com uma doença mortal, altamente contagiosa e que ninguém me visite.
- Mas por que tudo isso?
- Não posso explicar agora. Há um ser, é um besouro que fala. Bom, ele ficará tecendo por mim, você vai conhecê-lo. Dê tudo o que ele pedir. Mas escute: tranque aquele quarto e não deixe aquele besouro sair de lá até minha volta. Entendeu?
- Sim mãe. Mas e se a senhora demorar?
- Não o deixe sair, em nenhuma hipótese. Ordens de mãe e rainha! E descubra o que são todas aquelas coisas de lipo, botox, silicone que ele mencionou. Adeus filhote. Amo-te!
- Eu também mãe. Que os deuses a protejam!
(Telêmaco volta para o quarto da mãe).
- E aí meu caro. Precisa de algo?
- Ahhh...senhor, gostaria de sair um pouco e bebericar algo.
- Nem pensar. Você está muito doente e sua doença é contagiosa.
- Doente? Eu? Ficou louco rapaz? Ahh..já sei? Brincadeirinha né?
- Se não estava, acabou de ficar!
Odisseu e o canto das sereias

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Os loucos somos nós!

Erasmo de Roterdã já dizia na memorável obra "Elogio da Loucura" que ninguém convida filósofos para sua festa. São capazes de destruir o ar descontraído e alegre com suas enfadonhas alusões filosóficas. Em todo círculo onde homens e mulheres falam sobre coisas inúteis ou indispensáveis para suas vidas, o filósofo, sempre com seu poder de tudo iluminar com o olho da razão, tudo fere, sufoca e mata!
Deixemos que o filósofo vá embora, sozinho e triste, mas crente de que é o único possuidor da verdade. Que volte a filosofar com seus iguais, nas catedrais do saber, onde só a verdade importa. Assim, a festa ganha novo brilho, segue seu curso natural e os loucos podem se libertertar do jugo da razão.

Bem vindos bufões!
Adeus filósofos!


VAI CASAR? STOP!

Há muitos que já viveram a experiência do casamento e, por inúmeras razões, também viveram o drama da separação. Para esses a palavra “casamento” causa uma sensação estranha. Aos seus ouvidos, tal palavrinha soa algo como: STOP, TSUNAMI, BOMBA ATÔMICA, REENCARNAÇÃO, PURGATÓRIO, DOR DE CABEÇA, ERREI DE NOVO, OUTRA DÍVIDA?  Se você está prestes a tomar essa decisão, talvez a mais importante na vida de um ser humano, pense bem!  Porque um padre, quando abandona a batina, não é obrigado a devolver o dinheiro para a paróquia, nem sustentar o bispo pelo resto da vida. Sendo assim, aqui vão algumas dicas:
1)     Você gosta de um bom churrasco, daquela picanha com uma capinha de gordura? Já ela é vegetariana assumida, defende o fim da matança de qualquer espécie animal?
Dica: desista amigo! Ou comece a frequentar a feira ao invés do açougue.

2)    Ela adora roupas e joias caras, sonha com móveis planejados, com aquele carro maravilhoso. Já você é um pobretão, um simples funcionário público que ganha uma miséria.  Ela acha que você é o chefe da repartição (porque você mentiu no começo do namoro) e vive contando vantagens para as amigas.
Dica: não case! Você passará a vida toda indo ao banco e ligando para a operadora de cartão para renegociar suas dívidas. Ou então, pagará o mínimo da fatura até morrer.

3)    Você é um corinthiano doente. Já o pai dela é um palmeirense fanático.
Dica: não case. Em hipótese alguma! Ou então, se prepare para ouvir as grandes conquistas do parmera sobre o curingão pelo resto da vida, todo domingão. E no final, a desgraçada da piadinha: e a libertadores? E o mundial?

4)    A irmã dela é uma princesa, praticamente uma Vênus, um mulherão de cair o queixo.
Dica: é melhor terminar agora. Ou então, prepare-se para ouvir seus amigos te atormentarem a vida inteira com piadinhas sem graça (E tu casaste com a irmã, hein? É uma besta mesmo!).

5)    Você é chegado a uma badalação. Adora sair, tomar umas vez ou outra, gosta de um bom churrasco com cerveja gelada e uma boa caipirinha. Ela e toda a família dela só bebem Tubaína.
Dica: é melhor adiar o casamento e tentar trazer alguém pro seu time. Ou então, vai experimentando marcas de Tubaína pra ver qual é a melhor. E pode comprar o terninho amigão!

6)   Você é um caboclão, foi criado no meio do mato, brincava na terra e se divertia com qualquer riozinho que encontrasse pela frente. Já ela, é uma dondoca, uma princesinha que foi criada dentro de uma redoma de vidro.
Dica: nem pensar amigão! Vai “sofrê”!. Já pode ir se imaginando andando pela casa de pantufas, usando luvas pra lavar a louça e tirando o sapato pra entrar em casa. Ahhh...beber cervejinha e comer uma porção de calabresa acebolada na sala durante o jogo do seu time do coração? Sonha então!

7)    Você é uma pessoa bem relacionada, bom de papo, faz amizade fácil. Tem quinhentas e poucas pessoas em seu face ou Orkut. Já ela é uma chata, pouco ou nada sociável e tem ciúme da própria sombra.
Dica: Bom....se casar, venda seu computador e doe seu celular. Mas antes, apague absolutamente todos os contatos de sua lista. Vai quê, né? Ahhh..vender a casa na cidade e comprar um sítio seria uma boa saída também!