terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Discurso de formatura 9ºA e B - SESI Itapeva 2020

 

Boa noite a cada pessoa aqui presente nesse dia tão especial. Uma formatura é um momento único, genuíno, e a de 2020 é praticamente uma Monalisa, jamais existirá outra igual, apenas releituras, como as que a professora Marcela trabalha com tanta dedicação e criatividade. Da Vinci te perdoa, tá Má! Nenhuma geração jamais imaginou, nem mesmo em seus devaneios distópicos mais distantes o que estamos vivendo hoje.  Geração Z já é história! Ok, boomers?

E por falar em gerações, como não lembrar delas no dia de hoje? É muito provável que temos as gerações mais conhecidas aqui representadas hoje: BB, X, Y, Z e Alfa (provavelmente jogando algo no celular e falando “sozinhos” nesse exato momento). Vejam que momento único: estudamos, discutimos e dialogamos tanto no EIXO sobre os conflitos e as dificuldades de se conviver geracionalmente tendo vivido em tempos e mundos tão diferentes e agora estamos aqui, no mesmo espaço, pela mesma razão. Por falar nisso, vamos a um aulão revisional então? Eixo não teve prova mesmo! Pode ser 9ºA e B?

Quem é da Geração Baby Boomer aqui presente presenciou um dos momentos históricos mais tenebrosos da humanidade: foi testemunha ocular (ou talvez depois de seu fim) dos campos de concentração e do horror nazista, viu erigirem-se regimes totalitários em diferentes partes do globo, que já sabiam ser esférico. Pelo menos a escola já os ensinava e as viagens espaciais vieram ratificar o que já afirmava Ptolomeu no séc. I da era cristã.  Pois é professora Márcia e professor Anderson, os matemáticos sempre souberam antes de todos, que inveja, que ódio. Se Darwin tivesse antevisto o terraplanismo, talvez excluísse os humanos da escala evolutiva, né não Mayara? Mas a geração Baby Boomer não foi testemunha só do horror que a professora Tânia ensina com tanta dedicação para que as futuras gerações não repitam tamanha barbárie (calma Tânia, aquela perguntinha se é de esquerda ou direita, também me fazem! Tmj).  Os BB também viram florescer o sonho de um mundo melhor, de uma grande revolução, viu estudantes e professores universitários tomarem as ruas de Paris no maio de 68 gritando por liberdade. Viu Luther King fazer o discurso mais profundo que já vi e ouvi professora Elaine, mas com legenda tá? Quem sabe um trabalho interdisciplinar com essa galera no médio me ajude a dispensá-las. “Y have a dream”. “Eu tenho um sonho”, repetia inúmeras vezes e cada uma delas irrepetível! Geração BB também viu surgir a força da mulher negra, Angela Davis, até hoje exemplo de resistência e luta contra o racismo. Viu o Woodstock, e Joe Cocker, a virtuose de Jimi Hendrix, a potência de Janis Joplin. Eram jovens quando viram lançar o russo Sputnik em 1957, o primeiro satélite em órbita. Eu sei, os americanos não aceitam até hoje. A celeuma será eterna, a Guerra Fria parece nunca ter fim professora Jesi, a geopolítica não dá trégua, não é? E agora tem a vacina com selo de aduana. E viram ainda as comidas se enlatarem professora Arline. Adeus fogão de lenha. Dá-lhe química e conservante! Uma lata de massa tomate e um saco de carvão vegetal vale bem um projeto mega disciplinar, né não professora?

Teria muito a dizer sobre os BBs, mas deixo para que vocês os ouçam. E ouçam mesmo, valerá muito a pena!

Agora é a vez da minha geração e, talvez, de alguns de seus pais ou familiares aqui presentes, a geração X. Essa viu o cinema invadir as cidades. O de Itapeva era na Rua Dr. Pinheiro, lembram? Se os BB viram nascer a TV e o cinema preto e branco, a X viu o mundo ficar colorido, caber dentro de uma fita K7 (rebobinadas a Bic), de VHSs que pagávamos multa ao não rebobinar para devolver na locadora. Locadora? Desconfio que muitos de vocês nem saibam o que é isso. Se tiver alguém da Alfa, tenho certeza que não. Montanhas de fitas para quem comprava o primeiro Videocassete. Eita, aquilo era sinal de riqueza! Telefone fixo era sinal de muita riqueza! Nem dava tempo de ver tudo, tamanha a euforia. Vimos Rambo, Robocop, Lagoa Azul (um escândalo na época, diga-se de passagem), vimos sem entender nada o Exterminador do Futuro. Mal sabíamos que alguns deles já estavam tão próximos! Com Chuck Noris, acreditamos piamente que o mal estava do lado de lá do Oceano. E tínhamos uma catarse quando ele explodia o eixo do mal a bordo de uma moto que soltava mísseis. Sim, os americanos sempre foram uma espécie de Mister M da telona. E numa ameaça alienígena então? Quem nos salvará? Chapolin. Nãããooo! Esse é Mexicano, bota pro lado de lá do muro. Quem nos salvará é Brad Pitt, é Tom Cruise, são as Panteras. Se é pra alguém nos salvar, tem que ser dentro dos padrões hollywoodianos, né minha filha? Minha geração viu a indústria cultural chegar forte como nenhuma outra, desenhos animados invadiram nossas manhãs, junto com toda sua publicidade. A arte virou diversão professora Marcela, e grana! Muita grana! Viu Michel Jackson fazer o primeiro clipe com roteiro, direção e créditos no final. Viu Madona escandalizar o papa! Viu o Muro de Berlim vir abaixo a marretada e o povo a cantar: não há mais esquerda e direita, acabou! Somos uma coisa só e globalizada Jesi. Chique não? Agora as olimpíadas não terão mais aquela disputa de bloco professor Fabrício. Afinal, o que músculos, velocidade, destreza física, inteligência motora tem a ver com política? Nada, não é professor? E vimos os Menudos, Backstreet Boys, Xuxa e as paquitas (sim, um dia eu fui apaixonado pela Xuxa, acreditem! Só a filosofia me libertou! Ufa!). Vimos Cindy Lauper lacrar e causar com sua voz e cabelos coloridos. E vimos um Papa extremamente carismático, conservador nos costumes, sofrer atentado e perdoar o atirador.  E vimos o celular tijolão ser ostentado como novo videocassete. Seu pai tem um? Noooossa! E fico por aqui porque minha geração viu o mundo se abrir e fechar e ainda estamos confusos e perdidos em meio a sonhos e pesadelos, alegrias e preconceitos que urgem serem desconstruídos, assim como nossa relação com a natureza.

E a geração Y?  Já nasceu com computadores mais potentes (um quadrado branco e um teclado gigante, bem sei) e com internet (discada, eu também sei disso! Sou uma espécie de narrador onisciente) Rede social era o Orkut e suas comunidades pra lá de estranhas e engraçadas, “Eu não sei escrever Nietzsche”, “Eu assistia Tele Tubes”. Cresceram em um mundo “mais estável”, mas também muito mais imediatista, mais pragmático, mais egoísta. Mas foram também a primeira geração e se preocupar e se envolver de forma mais intensa com o meio ambiente e fortes valores morais. Minha geração matava passarinho ou os engaiolava. Os Y abriram as grades. Minha geração tinha o sonho de conquistar um emprego estável (trabalhar em um banco, na Maringá, passar em concurso) para ali permanecer até aposentar (palavra estranha hoje, não é mesmo?). Os Y preferem fazer o que gostam, o que dá prazer muito mais do que “o quanto ganharei e em quanto tempo”.  A revolução feminina chegou aqui pra ficar, bem como projetos coletivos que deem mais sentido ao existir como humanos que vivem em aldeia urbana. E também a inclusão, que não dará um passo atrás depois dessa geração, não é professora Rosilda?

E os Ys gestaram os “Zs” que hoje se formam. E eu não direi quase nada sobre vocês. Ainda me sinto meio estranho no ninho. Vocês me assustam, me fazem rir, me fazem chorar (o dia da escolha como paraninfo que o diga, não é 9ºB? Mas vocês me pagam ainda!). Quando numa aula sobre distopia, ouço uma aluna dizer que já tinha lido “Admirável mundo novo” de Aldoux Huxley e outra, partes de “1984”, eu gelei! Eu fui ler Huxley na faculdade! George Orwel nas férias do ano passado! Eu fico imaginando o que a Professora Mariane vai trabalhar em literatura com essa galera? Alguma distopia galáctica? Heim Mariane? As professoras Silvana e Gisele têm os muitos dedos aí, tenho certeza! Valdir, tá preparado pra um projeto inter, multi e transdisciplinar? Vamos ter que botar um foguete em órbita meu filho!  Anderson e Beatriz: preparem robôs para invadir Marte!

Uma geração que tem na capa de abertura Malala e Greta Thunberg!

Olha o tamanho da bronca! Olha o tamanho da esperança!

Imensa gratidão e sejam bem vindos e bem vindas ao médio!

E que a Fer, a Isa e a Vã, toda equipe SESI 399, a Caverna dos dragões sem o mestre dos magos, os seres de luz e sabedoria de todo o cosmos estejam do nosso lado mais uma vez! Vamos precisar, viu? Como nunca!

Gratidão eterna e um beijo no coração de cada formando e formanda!

E a geração Alfa professor? Esqueceu? Não, mas agora devem estar jogando Minecraft ou criando algum canal no Youtube. Depois vocês mandam aquele grande abraço!

 

 

 

 

 

 

Discurso de formatura 3ºA - SESI Itapeva 2020



 Hoje é dia de gratidão!

Gratidão imensa a cada ser humano aqui presente, a cada animalzinho de estimação que ofereceu companhia e carinho para tantas pessoas nesse 2020, a cada animal, planta e rio que resistiu e resiste a todas as tentativas de aniquilação. Gratidão a todos os heróis invisíveis desse país, especialmente os profissionais da saúde.

Gratidão imensa ao 3º ano por terem me escolhido paraninfo para representar toda a equipe de professores e professoras de nossa escola, de todos os ciclos pelos quais passaram, de todas os espaços escolares que já frequentaram. Esse momento é a consolidação de um longo percurso, de uma rede enorme de pessoas que passaram pela vida escolar de cada um e cada uma: merendeiras e merendeiros, jardineiros e jardineiras, seguranças e recepcionistas, agentes de limpeza, funcionários e funcionárias da administração e manutenção, agentes de apoio escolar, analistas, estagiários e estagiárias, bibliotecários e bibliotecárias, coordenadores e coordenadoras pedagógicas, diretores e diretoras, professores e professores, colegas de sala e familiares. Pensem em quantas pessoas foram importantes para esse momento de concretizar? Evidente que nós, do SESI, somos os prediletos, não é mesmo? Quem aqui está desde pequeno ou pequena, não tem outra escolha.

Gratidão imensa por estarmos vivos, com saúde e o coração repleto de alegria para celebrarmos o dia de hoje. O dia de hoje precisa e merece ser celebrado, mesmo com todas as angústias que ainda nos aperta o coração e a alma.  

Gratidão imensa por todos os desafios que esse ano nos colocou no caminho. E eles começaram quando vocês ainda tentavam nos convencer a comprar a camiseta da sala. Lembram? “Gente, que camiseta é essa? Num tem condição não gente! Caro demais! Sé doido!”. “E tem o blusão se quiser professor”, gritou alguém. Quê? Vai meu pagamento inteiro nesse trem doida!”. Risos, risos, passos apressados para convencer a mim e aos demais colegas. E tudo que parecia tão grande, tão imprescindível, ficou pequeno, vazio, sem sentido. Mas como disse a vocês na última aula: a festa foi adiada, não cancelada. E ela será muito maior, mais plena e vibrante. Lembrem-se do que dizia Epicuro. Há sofrimentos e dores que, se suportados com sabedoria, podem nos proporcionar prazeres e felicidades muito maiores do que a própria dor sentida. A privação pode nos ensinar a valorizar o que antes nos era despercebido: os olhares, os gestos, o afago, o riso, a lágrima, o tom da voz, o cheiro do corpo, o toque, o sussurro, o grunhido, a tes, a amizade, essa o bem mais duradouro e fértil segundo esses mesmos filósofos. Oxalá tudo isso nos torne maiores e mais humanos, como vocês alunos e alunas do 3º ano se tornaram ao longo de todos esses anos. Foi no 7º ano, projeto de Empreendedorismo, que os conheci pela primeira vez. Eu sequer fazia ideia do tamanho da encrenca que me aguardava. Meus tímpanos ainda vibram com tantos entusiasmos, discussões, reclamações, e quantas reclamações! Competição acirrada, quase impossível formar uma equipe sem alguém chegar pertinho e falar baixinho: “Não coloca essas duas pessoas no mesmo grupo professor, vai dá morte!”. Lembram? E chegou a Feira de livros (o SESI tem essa coisa de produto final a muito tempo, não é Fer, Isa e Vanessa?). No final, fizemos uma feira maravilhosa, arrecadamos centenas de livros, uma tenda colorida e vibrante. Ali eu entendi o potencial de vocês, especialmente das alunas e alunos que ficaram. Muitos foram embora e a turma encolheu. Rostos demarcavam o medo, uma sensação estranha de vazio e ao mesmo tempo alegria pelos que ali fincaram pé. “Não vou embora, meu lugar é aqui” era a mensagem. Mas e agora? Meu Deus? Essa turma não se forma no médio meu pai! Lembram amigos e amigas? De repente, vem um, mais uma na outra semana, mais duas na seguinte. Felicidade contida. Estávamos esperançosos, mas tínhamos que fazer o centrão dialogar com a extrema-direita e extrema-esquerda. Sim, escola é lugar de política. Lembram da “arquitetura” da sala? Na psicanálise isso tem nome: mecanismos de defesa. Pasmem, eles nos protegem, mas também nos ocultam. E é preciso tempo, paciência, cuidado e afeto para que os muros sejam colocados abaixo. Não é no embate, na marra, na marreta. É na escuta, na observação atenta, na aproximação vagarosa, silenciosa. “Então agora somos uma coisa só professor? Não há mais nenhuma barreira?” Vocês sabem a resposta. Mas sabem também que as mais importantes foram ao chão: a vaidade, o orgulho e a indiferença. Nasceu o cuidado, o respeito e a partilha. Vocês já estavam se preparando para o que enfrentariam nesse 2020 sem sequer imaginar. Vocês foram enormes, gigantes. Confesso que não sei se teria forças para ser tão resiliente se, na idade de vocês, tivesse que passar por tudo o que passaram. Nietzsche nunca fez tanto sentido pra mim como ao olhar para vocês nesse momento. Ele chamava tudo isso de autossuperação, de quem é capaz de fazer das pedras fortaleza, das dores o vigor do espírito. “O que não me destrói, me fortalece!”. Viver a vida como obra de arte, mesmo em meio ao caos e o ocaso. No caso de sua filosofia, falava num tom bastante solitário. Vocês demonstraram que é possível construir grandes obras de arte a muitas mãos. Muitíssimo grato por terem nos ensinado que é possível, principalmente hoje, quando vemos tantos exemplos que querem nos convencer do contrário, de que o que vale é o egoísmo mais mesquinho, a ignorância mais abjeta, o ódio mais mortal.

É um ano tão desafiador, que até um discurso de formatura, que antes parecia fluir tão naturalmente, repleto de poesia e divagações filosóficas, hoje deu lugar ao pulsar do coração, a uma alegria que não sei de onde vem diante de tanta dor. Quiçá as Moiras nos quisessem fazer desistir e abandonar tudo, para que Cloto finalmente pudesse cortar o fio. Mas não vamos, assim como vocês formandos e formandas não desistiram. Desejamos o melhor para cada um e cada uma! Que o amor, o cuidado e a sabedoria que nos ensinaram nos ajude a vencer o ódio, o egoísmo e a ignorância.

E lembrem-se do que eu disse: se um dia, já mais velhinhos e velhinhas, alguém puxar assunto de formatura, deixem falar. Apenas no final da conversa: me formei em 2020. O resto você entenderá! Vocês são e serão a história viva!

Que a vida sorria para vocês, como fizeram para nós, mesmo que remotamente e com a câmera desligada. Valeu mesmo!

Um beijo no coração e gratidão imensa!

Prof. Júlio Garcia