quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Discurso de Formatura SESI - 9ºA e 9ºB 2022

Confesso que foi uma gratíssima surpresa ter sido escolhido como paraninfo de vocês nesse ano de 2022. Meus colegas são cúmplices dessa surpresa, ainda mais usando véu grinalda e fazendo um juramento na frente de um pastor ou padre, sei lá. Logo eu, que fugi do seminário. Mas, depois de ver aquela cesta de chocolate (confesso que vi a cesta primeiro que o pastor, ou padre) meu coração não podia dizer não. Foi o sim mais sim da minha vida. Vocês transformaram aquele dia inesperado em algo muito especial (e os dias seguintes, regados a chocolate, também). Como dizem os estoicos, quando não alimentamos grandes expectativas sobre as coisas, situações e pessoas, nossa vida pode ser preenchida de momentos excepcionais, plenos. Já começamos a filosofar. Entenderam quando eu falei do martelo de rachar cabeças, né?

Sempre fui um apaixonado por metáforas e analogias e vocês ouvirão muitas delas nos próximos anos. Vou aqui pedir licença a todos vocês para criar uma analogia meio perigosa, meio ousada, mas vamos lá. Quem é casado sabe do que vou falar. O pedido para ser paraninfo, e aqui representar todos os meus colegas e comunidade escolar, foi feito numa espécie de cerimônia de casamento. Certo? Até o buquê me fizeram jogar? Se prepara Fabrício!

Pois bem, o que a educação teria a ver com casamento? Como dizia Kant, Sapere aude! Ouse!

Tudo começa como? Com uma grande paixão! Por isso o imperador Francisco I recusou Helene e se declarou para sua irmã, Sissi, ou Elizabete, como ela gostava de ser chamada. Se era para casar por obrigação, que fosse também por paixão. E não há como o processo do conhecimento se tornar conhecimento para a vida se não for despertado pela paixão. E esse é o grande desafio da educação: criar momentos em que o olhar de vocês se encante, se enamore, se apaixone, pelas letras, pelos números, pelas fórmulas, pelas filosofias e sociologias, pelas cores, pelos modelos, pelos movimentos, pelas transformações no tempo, pelo corpo e pelo espírito, pelos gênios, pela razão e pelos sentimentos. E não é necessário que se encante por tudo isso. Basta um encanto e muitos outros se enamoram juntos. E aí você equilibra e aprende a fugir dos extremos, que são sempre nocivos, como dizia Aristóteles.

Calma, o Ensino Médio não é um casamento para sempre. É, digamos, um namoro que parece durar uma eternidade, mas passa muito rápido. Quando vê, estarão exatamente aqui novamente, com aquela sensação que todos nós temos: como passou rápido! Assim como estão agora a olhar para os primeiros dias na fila, ansiosos para saber como era a primeira professora ou o primeiro professor. Desejo que nesse dia seu sentimento seja de completude, de uma paixão que preencheu seu ser por inteiro. Que muitos dias tenham sido inesquecíveis, assim como outros que sequer serão lembrados, e outros que desejarão esquecer, mas que serão todos eles, parte do caminho e sedimento para o grandioso dia, nessa escola ou em qualquer outra.

Descubram-se nas mudanças pelas quais já estão passando e ainda passarão. Todos fomos estudantes adolescentes um dia e também aguardávamos ansiosamente o intervalo, seja para comer ou jogar, ou para comer e jogar, seja lá qual for a ordem. Dentre tantos manifestos maravilhosos produzidos por vocês a poucos dias, um deles pleiteava exatamente mais intervalos. E eu apoio! Chegaremos lá!

Mas há um diferencial enorme entre a geração de vocês e a nossa. É a forma como podem aprender, como podem produzir, como podem inventar, recriar, discutir, dialogar. O século XXI precisa ser diferente do século XX e a educação precisa acompanhar essa mudança. O século XX produziu o que há de melhor e pior na história da humanidade e desejo que não tenhamos mais nenhum saudosismo pelo que produziu de mais nefasto. Colocamos 1 homem na lua e milhões em campos de extermínio. Produzimos vacinas e remédios para quase tudo, inclusive a que permitiu estarmos aqui juntos nesse dia. Mas produzimos também bomba que nos atormentam até hoje. Descortinamos quase toda a natureza, mas também a estamos levando ao limite de sermos expulsos mais uma vez do paraíso. Mesmo diante de um cenário tão exuberante e tão desolador, eu acredito na rapaziada, como dizia Gonzaginha, nessa geração que já está conhecendo essa história para não mais repeti-la, nessa geração que respeita o desejo e a escolha das pessoas, que julga muito menos e acolhe muito mais. Eu acredito nessa rapaziada. E isso não é colocar um fardo sobre seus ombros, é uma esperança que Pandora guardou em sua caixa e vocês tem a chave. O nome dela é paixão pelo conhecimento!  Paixão pela vida! Paixão pelo que é humano, demasiado humano, como dizia Nietzsche. Guarde essa chave, proteja-a, cultive-a. O momento de vocês chegará e eu confio que dias melhores virão, para a humanidade e para a mãe natureza. Será o casamento mais feliz que um dia a humanidade já viu, muito mais exuberante que o casamento de qualquer rei ou rainha, porque as joias desse casamento nenhum poder e nenhum dinheiro poderão subtrair ou comprar, pois elas estarão dentro de vocês, na mente e no corpo, em todo seu ser!

Boas festas, boas férias e até os próximos dias e anos!

Beijo no coração de cada um!

sábado, 26 de novembro de 2022

AMOR SE DIZ DE VÁRIAS MANEIRAS – Para Pâmela e Lucas

O amor e a natureza uniram Pâmela e Lucas (nos ritos tradicionais o nome do homem vem sempre primeiro, mas estamos reunidos aqui para fazer a diferença, não é?)

Então: Pâmela e Lucas: eu não sei exatamente como foi a primeira vez que se viram. Na minha imaginação, foi fazendo rapel. Vocês estavam descendo, um lado do outro, olhares trocados e o Lucas me sai com seu famoso: muito da hora, heim mina? Pronto, o amor está no ar, literalmente.

Por falar em amor, é sobre ele que iremos falar.

Freud afirmava que duas grandes pulsões movem nossa existência e nos tornam o que somos: a pulsão de vida e a pulsão de morte. O amor e o ódio. Eros e Tânatos. É da composição dessas duas forças que somos feitos, forjados, constituídos. E só aqui já é possível entender que nossa existência individual já é ela mesma uma mescla dessas duas forças. Quando nos unimos a alguém, como fazem hoje (eu sei que já estão juntos faz tempo, é só pra melhorar o impacto da frase), todas essas forças irão se potencializar. A pulsão de vida, o amor precisa dominar as forças da morte e do ódio. Elas não são exterminadas, elas permanecerão ali, todos os dias, não porque sejam forças externas e ocultas, mas porque estão dentro de nós. E vocês tem em comum uma poderosa arma para dominar tais forças: o amor pela mãe natureza.

A transformação possível, eu digo possível, porque muitos traços de nossa personalidade, nossas pequenas mazelas, manias e ansiedades nos acompanharão a vida toda. Portanto, a transformação do que estará ao alcance de cada um e em conjunto realizar, será operada pela maior medicina que os humanos tem à sua disposição: bicho, mato, cachoeira, rios, montanhas, grutas, cavernas, escuridão, estrelas, raios e trovões, nuvens e céu, o breu, a noite, o por do sol. 

Não há só negacionistas da ciência, há muitos de nós (e me incluo entre eles) que negam o remédio mais eficaz, a terapia mais eficiente. Espero que aprendamos nesse dia com você Pâmela e Lucas. Que a humanidade aprenda que o amor da mãe natureza é insubstituível e imprescindível. A mãe é o nosso primeiro objeto do amor já dizia Freud. E a ausência desse amor é devastador, é destruidor. Quando a humanidade resolveu começar a lutar destruir sua mãe a alguns séculos atrás, mal sabiam que a ausência dela poderá significar o nosso fim, mas não o dela. A mãe parirá outros filhos, como sempre fez. Talvez dessa vez sem os homens inteligentes. Ao olhar para a união de vocês e a forma como assumiram viver ilumine o olhar de todos os humanos e que nos reconciliemos com nossa mãe agora, já, hoje. Não pode ser amanhã.

Os gregos foram muito sábios quando inventaram vários nomes para o amor: Eros (o amor da paixão), Phlia (o amor da amizade), Ludus (a amor pelo jogo, pela brincadeira), Ágape (o amor empático e universal), Pragma (o amor comprometido e companheiro), Philautia (o amor próprio). São muitas as formas de amar e os gregos sabiam disso. Nietzsche também forjou um tipo de amor pra chamar de seu: amor fati, amor ao agora, ao aqui. Também nós vamos ousar no dia hoje e inventar um novo tipo de amor: amor natura. O mais importante de todos hoje em dia, porque sem ele, sem o amor à natureza, nenhum outro será possível e as forças da morte e do ódio triunfarão. Mas como diz Gandhi, o mal pode durar muito tempo, mas o bem irá vencer. E não há mais tempo. A hora do amor natura é agora!

Que o bom Deus e todas as forças mais profundas da natureza abençoem infinitamente a vida vocês!

Muito obrigado por nos proporcionarem esse encontro com vocês e esse reencontro com nossa mãe!