Boa noite a toda comunidade SESI aqui presente nessa noite tão especial.
É sempre uma honra representar
todos os meus colegas professores e professoras como paraninfo de turma. E
sempre dá um friozinho na barriga, não é Márcia? E aquela voz interior com a
qual eu falo em silêncio ou na frente de todo mundo mesmo, sempre escreve em
caixa alta nessa época do ano: Não vai dar meu filho!. Poucos segundos depois,
ela mesma soletra bem baixinho no canto do ouvido: você está no SESI e esse
terceiro vai te matar. Bendito superego! Respira e cria. Você é bom nisso!
Pronto, sabe aquele traço narcísico bem pequenininho que esse professor tem?
Então, vamos lá!
Entre deuses, filósofos
e formandos!
Não gosto muito da ideia de ciclo
que se encerra, porque o que é cíclico não tem exatamente um fim, ou pelo
menos, sempre retorna em algum momento da vida. Como disse meu professor de
psicanálise: a criança sempre irá perguntar se tem que ser à caneta ou pode ser
a lápis. Pelo menos as de xizinho, né galera? Esse pequeno exemplo nos mostra o
quanto certas experiências e aprendizados nos marcam profundamente e sempre
estarão lá. Você não vai deixar a escola, nem as experiências que aqui viveu,
tampouco as pessoas com quem dividiu risos, abraços e choros. Cada sucesso e
fracasso, cada palavra terna ou mais dura, cada gesto de afeto ou cada golpe no
coração, o primeiro dez, a primeira reprova, o primeiro bola fora, o primeiro
não, a primeira paixão, o primeiro desgosto, o primeiro dia de aula, a primeira
professora, a primeira aula de filosofia e sociologia. Tudo isso é o tecido que
nos forma, que nos molda e que nos transforma. E é preciso olhar para todos
esses momentos e experiências com ternura e olhar apurado, com sinceridade, mas
também leveza, com o olhar da crítica, sem se esquecer de estender as mãos da
gratidão. E voltar, voltar sempre que preciso, sempre que necessário. Porque se
não voltamos, ele volta, como passado, como “roupa que não me serve mais”, mas
que também não podemos mais vender, nem doar, nem se desfazer. Melhor abrir o guarda roupa e deixar que ela
se mostre. Voltar repetidas vezes e ir ao encontro dela, da sua roupa.
Voltemos então! E no começo eram
os deuses, era a luz inebriante do Olimpo. Professor, mitologia é muito da
hora. Quando teremos aula disso de novo? Mas o que os deuses teriam a nos
dizer, pobres mortais? Que eles nos invejam, por isso nos alçam aos louros da
vitória e ao drama da tragédia. Ohh, quantas vitórias e tragédias não viveu
cada um de nós, mas especialmente cada um de vocês durante todos esses anos,
estimados formandos e formandas.
Deixemos os deuses em sua
eternidade. Como dizia Epicuro, são felizes e plenos e não se ocupam da vida
alheia. Ahh, então, cuidado com a bolha, cuidado com o Insta heim! Eu sei: face
já era professor!
E os filósofos? Valeria trazê-los
de volta? Calma, não é para o vestibular, nem para o ENEM, nem PSS. Apenas
algumas lembranças do passado que podem servir como roupa customizada no
futuro.
Busque o equilíbrio e será feliz
(o desenho da balança, lembram?). A virtude está no meio termo. Mas e é fácil
Aristóteles? Não! Vez ou outra passe da conta, ou sequer saia do lugar. Ou,
como disse um outro professor do meu curso: o segredo não é o equilíbrio, mas
equilibrar-se!
Saia um pouco do mundo sensível,
não viva só em função da matéria ou da alma concupiscente (lembram do desenho
do hominho? Quase um vitruviano, né?). Viaje para outros planos, mundos inteligíveis,
planetas não habitados. Leia, leia, leia. Mas volte, volte e grite dentro da
caverna: saí daí ignorância! É fake neeeewssss pô!
Entenda que a felicidade está nas
coisas mais simples, e se você não for capaz de ser feliz com pouco, jamais
será com muito. Mas Epicuro, posso considerar um caixa de chocolate, uma bela
picanha, coisa simples? Pode vai, tá meio salgado né? Só não exagera! E não se
esqueça que amigos são melhores que o melhor churrasco. Se conseguir juntar as
duas coisas, aí é muuuuita felicidade. (E que os veganos nos perdoem a
blasfêmia).
E quando as coisas não estiverem
em meu controle ou não dependerem de mim? O melhor é relaxar, tranquilizar o
coração e não se desesperar. Um pouco de estoicismo não fará mal a ninguém! E, em
certa situações, não levante grandes expectativas. Quem é corintiano, como eu,
aprende isso desde muito cedo.
Aaa, mas eu também terei que
fazer escolhas, tomar decisões. Sim, dia após dia. Algumas serão bem difíceis,
tipo escolher um filme na Netflix. Eu já desisti umas duzentas vezes. A vida
não é um catálogo da Netflix, mas desistir também poderá ser uma opção.
E quando tiver dúvidas? Que bom,
né! Sem dúvida não é possível chegar a certeza nenhuma. Descartes estaria até
hoje sentado no porto a pensar se o navio é grande ou pequeno. Ou se enganando
com tudo que vê no Tik Tok. Use filtro, mas com moderação! Os sentidos enganam!
Mas e quando eu tiver certeza,
certeza, certeza mesmo? Lembre-se com Hume que há sempre um 0,001% de
probabilidade de estar errado. A bateria do celular pode acabar ou a natureza
contrariar suas previsões. Aaahhh, e a pessoa que estava com o pren drive
faltar exatamente no dia da apresentação. Eu disse: faz no online e compartilha
meu pai amado! Isso você deve levar pra faculdade. Lá não desconta só 20% da
nota não!
E quando eu não souber o que
fazer ou não tiver certeza se é o certo a fazer? Lembre-se de Kant. Eu quero
que todos façam o mesmo? Se fizessem comigo, seria bacana? Não precisa lembrar
o nome dos imperativos, isso não importa mais. Importa que aprendamos a pensar
e agir coletivamente. Não, também não precisa todo mundo gostar de sertanejo
universitário. Aí o imperativo é hipotético mesmo! Nada de categórico!
E quando nada fizer sentido?
Busque um! Quem disse que a vida já vem com uma bula de recomendações e efeitos
colaterais? Nos tornamos pelas escolhas, como diz Simone de Beauvoir. Amor
fati, como diz Nietzsche. Amar o que somos, amar a vida, amar esse momento, amar
com todas as forças do corpo e do espírito. E partir para ser espíritos livres,
capazes de pensar por si mesmos, esclarecidos, com desejo de um mundo mais
justo e mais humano. Humanizar as relações. Deixar as coisas serem coisas.
Tirar das coisas os sentimentos para os recolocarmos no lugar de onde jamais
deveriam ter sido tirados: de dentro de nós mesmos. Sentimento é coisa de
humano. Se formos capazes de nos revoltar e não nos calar diante da injustiça,
do racismo, da intolerância e do preconceito, estaremos já sendo subversivos,
revolucionários, porque há ainda em nós SENTIMENTO, porque o “pulso ainda
pulsa” e somos capazes de ir, mas também de voltar.
É com um sentimento de terna
gratidão e imensa felicidade que desejo saúde, luz e sabedoria! Corujas, estimados
estudantes, muitas corujitas!
Ahhh, e pode fazer a lápis sim! E
compre uma borracha também!