sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Discurso de formatura SESI 9ºA e 9ºB 2023

 

Entre o real e o possível, entre o desejo e a escolha, entre a flor e a dinamite.

Boa noite! Apesar do título desse discurso remeter mais à Filosofia e à Psicanálise do que à História, não poderia deixar de fazer uma breve revisão nono ano. Calma....essa revisão não é para o ENEM, nem para o PSS. No 9º ano estudamos muito sobre o século XX, com seus horrores, seus campos de concentração, suas bombas atômicas, suas ditaduras, suas revoluções, seus processos de independência, a queda do muro, o mundo globalizado, a redemocratização. Um novo mundo se abria, novas tecnologias, foguetes, IA, robôs (que nunca nos substituirão Isa...rsrsrs), novos futuros, novas possibilidades, prateleiras, consumo, novas marcas, novas escolhas.  E uma nova (ou velha) polarização nasceu (ou renasceu), já se fala em desglobalização, uma Guerra Fria 2.0 se descortina, disputas territoriais voltam a nos atormentar, Gaia (se ainda não sabem quem é, nono ano, vão descobrir. Se a curiosidade for maior que a espera, dá um google aí), Gaia extenuada com a ingratidão de seus filhos, especialmente nós, os bípedes inteligentes. Somos fruto de nossas escolhas, individuais e coletivas. E aqui dialogamos com Sartre. Cada um de nós está refém das escolhas que faz todos os dias. E lembrem-se: “não escolher” é também uma escolha. Somos um ser aberto para o amanhã, para o possível, para o desejo. Sartre afirmava que não importa o que fizeram de nós, mas o que faremos daquilo que fizeram de nós. Muitas vitórias foram conquistadas até aqui caros estudantes, bem como muitas frustrações, muito riso e muito choro. Vocês encerram hoje um ciclo meus caros , e iniciam outro. Muitas escolhas serão feitas, muitas possibilidades se abrirão para todos vocês e para todos nós. E escolhas são feitas todos os dias. Como dizia Aristóteles, um ato justo não torna um homem justo, são precisos muitos atos justos, constância, equilíbrio, até a virtude. Por isso, erramos mais do que acertamos, assim, somos o único que ser que pode sentir a angústia, a ansiedade, a depressão, mas também a esperança, a fé, o riso, a graça e a vitória. Para isso temos a arte, a dança, o cinema, o teatro, um bom livro, uma boa conversa, a sensação boa de resolver uma equação de segundo grau desafiadora, uma oração profunda, uma viagem prazerosa, um amigo sincero, um delicioso chocolate, um café quentinho com pão de queijo, um abraço e um beijo gostoso de quem amamos e de quem nos ama, uma formatura, num ciclo que, sabemos, nunca termina. Somos o mesmo e somos um outro todos os dias.

Dessa maneira, como dizia Nietzsche, é preciso olhar as coisas por muitos prismas, muitas perspectivas, não para chegar à verdade absoluta (ela talvez seja mesmo uma grande fábula, uma quimera, uma metáfora), mas para sermos mais profundos e mais sinceros, menos vaidosos e mais leais a nós mesmos. Então, também Sartre precisa ser contestado, como o século XX precisa novamente ser contestado, porque não olhou seriamente para o seu abismo, não foi capaz de enxergar o monstro que criou e que passou a habitar seus porões, as dinamites que ainda carrega nas mãos, as flores que foram escondidas. O mundo precisa de uma pausa e de um olhar para o passado, porque ele importa sim, criou traumas, fissuras e feridas que ainda estão abertas e voltaram a nos atormentar. Também nós, e cada um de nós, somos uma linha tênue entre o que fizeram de nós, o que está ao nosso alcance e o que nos constituiu como somos agora. Nossa eterna criança (como dizia Freud) carrega nas mãos dinamites e flores, amores e desilusões, abandonos e completudes, luz e escuridão, desejos e interditos. Que saibamos olhar para a criança e ensiná-la a não puxar o pino que pode espalhar dor, sofrimento e destruição ao redor. Mas que também ensinemos nossa criança a não puxar o pino quando estiver sozinha, que saiba olhar para suas dores contemplando as flores nos momentos difíceis, e, sempre que a vida nos der a oportunidade, que ela saiba espalhar suas flores e tornar a plantá-las, todos os dias. Seremos os mesmos todos os dias, a criança trará a flor e a dinamite. Busquemos juntos ser melhores, assim, esse espaço será melhor, nossas aprendizagens serão muito melhores e, quiçá, o mundo também o será, assim como Gaia talvez tenha tempo de nos perdoar e mande embora Kronos. Também ela merece reflorescer e espalhar sua beleza e encanto. Kronos precisa de tempo. Nós precisamos de tempo. Que os dias que virão nos permitam acolher o que somos e nos dê coragem para transformar o que podemos. Que a mudança possível comece comigo e com você!

Muitíssimo obrigado! Cuidemos de nossa criança e a ajudemos a fazer boas escolhas e espalhar flores, muitas flores. Cuidemos uns dos outros. Cuidemos de Gaia.